ARTE POBRE
Dinis Machado
foto ©Dinis Machado
Chegado recentemente a Lisboa, o primeiro contacto que tive com o Vou A Tua Casa foi através da primeira Agenda de Lisboa, volume mensal bastante gordo comparado com o seu equivalente trimestral portuense. Como dizia, nessa agenda vinha uma entrevista ao Rogério, cujo projecto, que penso ainda andava pelo Lado A, me pareceu curioso — sempre me agradou a capacidade de fazer arte pobre — ser capaz de criar sentidos com a caixa dos cereais, com o bibelot dos Chineses ou, neste caso, com um computador e um projector — e parece-me que este reciclar da casa dos outros, da rua (casa de todos), e da sua própria casa é um extremar desta intenção de não fazer a arte depender dos meios. Desenrascou-se e fez o seu desenrasque fazer sentido. Mas mais do que isto lembro-me que o Rogério falava nessa entrevista que era no Bairro Alto que costumava ver os cartazes das "coisas" que ia ver. Fui verificar, os cartazes estavam realmente por toda a parte, gostei, e desde aí fiquei por lá a viver. Nunca mais ouvi falar do Rogério até me cruzar com o Lado C (o único que conheço) no Festival Alkantara. Falar da performance em si parece-me uma tarefa complicada, senti-a como uma espécie de brainstorming gigante do qual, com o puré de batata-doce pelo meio, não apanhei metade, o que tem o seu lado positivo — o Rogério fala muito — há que filtrar. Mas o que mais me marcou foram os discursos sobre o caminho: havia algo de homérico no discurso; o Rogério falava-nos desta personagem que é ele próprio como alguém que deixou o “conforto das suas origens” para se construir, para construir uma nova morada, porque as moradas não se procuram, constroem-se. E este é um percurso trágico, porque se constrói com ilusões que não se encontram ao chegar, ou que quando se encontram vão-se desvanecendo. Como por essa altura também eu estava desiludido com a Lisboa que tinha encontrado, lembro-me particularmente de uma passagem em que o Rogério dizia (qualquer coisa como): “Deixei o campo pensando que iria viver numa grande cidade, mas o que encontrei foi um grande campo. Campo por campo, prefiro o original.” Assim, a grande questão deste trabalho, para mim, foi a construção, a construção de um caminho em que nos forçamos a andar e a construção paralela de uma casa/abrigo onde nos sentimos bem e podemos descansar.
Dinis Machado, 20 anos, actor.