UM ESPECTÁCULO INACABADO
20-21 de Agosto de 2005
21:40-01:55 Horas
No início eu estava a representar o papel do autor que quer ser só isso mas que sabe muito bem que esperam dele algo mais; a Natacha estava a representar o papel de quem sabe muito bem o que a casa gasta, mas sem querer desvendar muito mais para lá de sorrisos cúmplices; a Margarida estava a representar o papel de quem tenciona fazer tábua rasa do que já sabe, mas sem desvendar muito mais para lá de sorrisos nervosos; a Paula estava a representar o papel de espectadora no seu grau zero de interpretação, mas sem desvendar muito mais para lá dos olhos esbugalhados. Depois de conversas acompanhadas de novela e de um passeio solitário da Paula-espectadora-a-sério pelos meandros da casa, fomos todos para o escritório, onde nos esperava um espectáculo. Esse mesmo. O tal. No fim, eu representava o papel de espectador do seu próprio espectáculo mas que sabe muito bem que se trata de um mero capricho teórico (dele); a Natacha representava o papel de encenadora do espectáculo, mas sem querer desvendar muito mais para lá de reposicionamentos do corpo em relação aos restantes participantes; a Margarida representava o papel de actriz-fetiche da encenadora, mas sem querer desvendar muito mais para lá de sorrisos cúmplices; a Paula representava o papel de actriz-estreante da companhia, mas sem desvendar muito mais para lá de reposicionamentos nervosos do corpo em relação aos restantes participantes. Parou-se por cansaço. Nunca mais retomámos. Talvez A Oportunidade do Espectador venha a pôr as contas em dia. Um dia.