terça-feira, julho 18, 2006

press.

VER DE PERTO
[notas de um espectador]


João Carneiro
Expresso, 24 de Junho de 2006


Nesta última semana, Rogério Nuno Costa apresentou, integrado no Festival Alkantara, a terceira parte do seu projecto Vou A Tua Casa: o Lado C. Depois de ir ele a casa das pessoas (Lado A), depois de se encontrar com elas a meio caminho (Lado B), vão agora as pessoas a casa do artista. Tomam uma refeição em conjunto e as coisas passam-se, em grande parte, num grupo em que o público não ultrapassa o número de quatro. O início é, assim, o de uma reunião social à volta da mesa, e depois as coisas desenrolam-se a partir de um dossiê, de informações sobre o artista e de considerações sobre o espectáculo. O que há aqui de novo, de diferente, ou de inesperado? O lugar? O tom autobiográfico? O conteúdo dos discursos? É possível, assim como é possível esvaziar alguma da surpresa tomando tudo aquilo como uma modalidade mais ou menos inesperada de conceber ficções sob a forma de espectáculo. A um certo momento, o autor refere uma apresentação durante a qual um espectador terá concluído que aquela maneira de fazer teatro se deve a um desejo de ver as pessoas de perto. Parece-me uma boa razão, talvez mesmo a melhor de todas para podermos gostar de todo aquele tempo em que muito do que nos é dito nem sequer nos interessa muito, mas a que não ficamos indiferentes. Mas quem é que quer ver as pessoas de perto? Os outros espectadores? O autor? Todos? É curioso. Trata-se de um espectáculo em que qualquer coisa mudou na repartição de papéis que habitualmente são conferidos a espectadores e a artistas, a actores e a público. Pode ser que o autor esteja, neste espectáculo, a assistir tanto como nós. Mas a quê? Como?



[crítica de João Carneiro ao Lado A aqui]