sexta-feira, fevereiro 17, 2006

justiça performativa.



Faz agora mais ou menos um ano, tive uma conversa por Messenger com um amigo ligado directamente ao projecto Vou A Tua Casa. Guardei a conversa, mas nunca mais me lembrei dela. Descobri-a hoje, e considero muito interessante rebatê-la com o que disse aqui. Reproduzo integralmente a parte que guardei, sem cortes censórios, nem arranjos do Português:


Não dá para ficar milionário. Sou demasiado "boa pessoa". Quando a coisa é muito valiosa para mim, não sou capaz de exigir dinheiro. Não há valor que pague conheceres uma pessoa brilhante. É piroso, mas é verdade. Uma performance não tem que ser "paga" para ser performance. Tenho feito algum dinheiro com o Vou A Tua Casa, sem ser preciso pedi-lo às pessoas que me vêem. Alguns festivais compram-me o espectáculo, por exemplo. Em Londres, ninguém pagou para me ver. De qualquer das formas, neste momento o dinheiro não é importante para este projecto. Para outros, é-o com certeza. Espectáculos que compreendem uma equipa, por exemplo. Que têm gastos concretos. Eu só faço o Vou A Tua Casa e o No Caminho quando posso, realmente. Marco performances para as horas em que não tenho nada para fazer. E em cada performance aprendo mais sobre o que significa ser artista do que em 30 espectáculos montados num palco convencional e pagos a 10€ por bilhete. Não estou a ser exagerado. Por isso é que o dinheiro se torna irrelevante neste projecto. E por isso é que existe a possibilidade (se bem que ainda não tenha acontecido) de poder ser eu a pagar ao espectador. Porque não? Com o No Caminho, existe a possibilidade (teórica ainda, neste momento), dos papéis de espectador e de performer trocarem literalmente de lugar. Já esteve quase quase a acontecer. No dia em que eu me sentir literalmente espectador do meu próprio espectáculo, pagarei à pessoa. Não é mais uma loucura à Rogério Nuno Costa para as pessoas lerem subversão dos trâmites clássicos do espectáculo. É pura JUSTIÇA PERFORMATIVA.

2005