Há cerca de mês e meio (altura em que este blog completava um ano de existência), decidi tornar pública a real situação financeira do projecto 'Vou A Tua Casa', sem qualquer intenção política (ou politizada) para além da crua e nua apresentação dos factos. Numa frase: projecto não apoiado, continuidade inviabilizada, cansaço, consciência de que não faz sentido continuar a trabalhar nas mesmas condições com que comecei o projecto, em 2003. Desde esse ano, e à medida que o tempo foi passando, o projecto desenvolveu-se, eu fui crescendo (como artista, como pessoa, blah blah blah...) com ele (o projecto) e por causa dele. Fui-me tornando cada vez mais exigente em relação ao meu trabalho, e o trabalho devolveu-me o empenho na forma de novos desafios, criativos e outros. No que respeita ao suporte institucional (que, verdade seja dita, nunca tive), não houve acompanhamento. O projecto foi falado, analisado, discursado, atravessado por todo o tipo de linhas de pensamento dentro e fora do universo das artes performativas (sem dúvida, uma grande conquista para mim, tendo em conta a dimensão teorizante da grande maioria dos objectivos do projecto), mas nunca foi apoiado, no sentido verdadeiramente "sustentado" do termo. Pondo de parte falsas modéstias, pareceu-me que a situação actual merecia de mim (responsável máximo, porque autor, do projecto), uma profunda reflexão acerca do lugar que o meu trabalho (em particular o 'Vou A Tua Casa') tem no panorama das artes performativas em Portugal. De imediato rejeitei todo o tipo de discursos miserabilistas sobre a "crise" e sobre a "política" e sobre os desgraçados de todos os outros que, como eu, se encontram na mesma situação de impasse. Com todo o respeito, não é disso que me alimento, não é disso que o 'Vou A Tua Casa' se alimenta, não é compactuando com essa espécie de suicídio colectivo (e assistido!) que vou resolver os meus problemas. Ouvidos que estão os meus fiéis observadores, assim como outras pessoas de índoles profissionais diversas com quem me aconselhei, chegou a hora de tomar a decisão que, no meu ponto de vista, melhor se adequa àquilo que mais desejo para o futuro do meu trabalho: o aprofundamento teórico de uma série de linhas de investigação (vindas de campos paralelos ao das artes performativas), assim como o melhoramento das condições da minha vida mais pessoal e mais íntima; sim!, isso mesmo, a minha vidinha das contas por pagar, das rendas em atraso, da comida, das roupas para o Inverno... A mesma vida que descarnadamente uso e abuso para dela fazer performance. Acima de qualquer outra razão mais ou menos "artística", mais ou menos "política", sem dúvida alguma que o cruzamento do quotidiano mais banal com a vontade sobre-humana de querer fazer da minha vida (diria melhor, das minhas vidas) a minha “tese” e a minha “especialização”, é a espinha dorsal que pretendo salvaguardar neste projecto. Assim sendo, suspendem-se por agora os espectáculos, desemboque finalizante de um processo que, infelizmente, não posso suportar. Mantém-se, contudo, o projecto de investigação, inerente em última instância a uma vivência quotidiana que, logicamente, continuará a fazer parte da minha vida. Isto não é, contudo, um ponto final. O 'Vou A Tua Casa' (não só o "LADO C", agora suspenso, mas todas as outras dimensões, sejam elas espectáculos ou não) continua a existir: nos debates de ideias com os meus observadores, na troca de experiências com outros artistas e criadores, na produção de um discurso escrito e visual que tem a sua máxima expressão neste blog, na concretização de projectos-apêndice como os esboços do projecto 'FUI' (a título de exemplo, pois esperam-se desenvolvimentos num futuro mais longínquo), e etc. Trata-se, portanto, de uma suspensão, não de uma paragem; uma suspensão sustentada por uma ideia de espera: só abrirei novamente as portas de minha casa (esteja eu onde estiver) quando receber para o projecto as contrapartidas financeiras que ele merece. No entretanto, o projecto vive. Por isso, espero poder continuar a contar com a curiosidade daqueles que se interessam, que me fazem perguntas, que me mandam e-mails, que se propõem a analisar o meu trabalho.
Até breve!
Fotografia & Design: José Luís Neves