segunda-feira, dezembro 26, 2005

reprise da reprise.

CITAÇÕES
[pequena amostra]


Alguns papelinhos que aparelharam a árvore de Natal na performance FUI [Casa Conveniente, 17 de Dezembro de 2005]:

#1.
Não percebem que esta lógica de se investir na aparência não resulta. Não percebem que estão a hipotecar as vidas de toda uma geração que acreditou em vocês, que tinha esperança na visão de futuro que vocês lhes pintaram e que agora se sentem à deriva nesta jangada de betão que teimam em edificar (dez estádios de futebol?!?). Não, a vida não é assim. Não pode ser assim. Aconteceu estar em França há dois anos e acompanhei o início das movimentações dos trabalhadores intermitentes e precários, com as suas assembleias gerais espontâneas nos foyers dos teatros e os boicotes aos festivais de verão. Estamos a anos-luz dessa realidade, dessa consciência cívica, porque não se pode perder ou sentir a falta do que não se tem, mas chega de falinhas mansas. Não podemos continuar a ser cúmplices desta total e impune falta de respeito. Por isso, faço um apelo público aos outros participantes da Plataforma de Dança Contemporânea da Faro 2005: não continuem a jogar o jogo e tomem uma posição. Não sejam cúmplices de mais uma obra fechada. [JOÃO FIADEIRO]

#2.
É para alimentar esta burocra­cia de rabo na boca que trabalha­mos fora de horas? Para fazerem discursos? E para, à nossa custa, subir na vida uma catrefada de cu­radores, programadores, interme­diários, directores, chefes de mis­são, assessores, administradores, juris­tas? Enquanto definhamos? Gógol, o génio russo, descreveu is­to. E está traduzido. Como o sonho morre às mãos da pequena burguesia que se apropria do Estado. E nós, João, os vencidos, que tínha­mos, um dia, pensado ocupar A Capi­tal com correntes e todo o folclore? Não é melhor ocuparmos o Ministério da Cultura? Não é nosso? [JORGE SILVA MELO]

#3.
O director do Nacional agradece aos céus três produções tuas em seis meses e ainda vem dizer que está a dar lugar aos novos. E ainda te sobra o tempo para tomares as decisões das pessoas que tu colocaste nos lugares de decisão. E a cereja do bolo não é o Dr. Louçã agradecer-te um autor que, antes de o dares a “descobrir”, era “reaccionário”. São aqueles mesmos críticos e programadores que, sem abalos deontológicos ou lesões corticais, até engolem a Sarah Kane porque és tu a vendê-la. E vais agora com o João Fiadeiro ocupar o Ministério da Cultura. A sério? Para quê dares-te ao trabalho?" [FRANCISCO LUÍS PARREIRA]

#4.
Pergunta: foi o Ministro da Cultura que mais vezes apareceu na revista Caras. Como começou a sua relação privilegiada com as chamadas "revistas cor-de-rosa"? Resposta: tem de me apresentar essa contabilidade dos Ministros que aparecem na Caras. Como sabe, a cultura tem uma grande proximidade com eventos sociais, as inaugurações, as vernissages, as estreias, e podem fechar-se portas a essas situações, ou não. Francamente, aquilo de que tenho pena em Portugal é que se leia tão pouco, tão poucos livros, são essas situações que merecem acções de fundo. Na situação que temos, não me parece que se deva fazer uma hierarquia muito brutal entre publicações, do género: deve falar-se para o Público ou aparecer na Caras? [MANUEL MARIA CARRILHO]

#5.
O Estado tem a obrigação de perceber que, ao apoiar os seus artistas e a sua internacionalização, está a apoiar-se a si próprio, numa estratégia de consolidação da sua imagem e do seu imaginário. Haja artistas portugueses. Isso quer dizer que há Portugal. [PAULO CUNHA E SILVA]

#6.
Que a poesia me perdoe, estamos todos mais precisados de boas pessoas do que de bons poetas. [MANUEL ANTÓNIO PINA] 


A todos desejei um Santo Natal. A todos auguriei um 2006 pleno de boas e concretizáveis ideias. Limpei o cu aos papéis, no fim, com reverência e dedicação: