sábado, dezembro 24, 2005

ao lado.

DA IDOLATRIA


Anschool II, Thomas Hirschhorn
Fundação de Serralves, Porto
Dezembro 2005


um/
Só enquanto arte pode a arte ganhar importância e ter significado político.
dois/
Quero fazer obras de arte em que faltas e erros não sejam importantes.
três/
O melhor é sempre menos bom.
quatro/
Na arte não sou pela interactividade. Sou pela actividade do pensamento.
cinco/
Não há um lugar ideal para a arte; o museu não o é, nem a rua, nem a casa de um coleccionador, nem a galeria.
seis/
Para trabalhar num espaço público tenho de concordar com o espaço público. Só se eu concordar com o espaço público posso colaborar. Tenho que colaborar com a realidade para mudá-la.
sete/
Não faço arte política. Trabalho politicamente. Trabalhar politicamente é trabalhar sem cinismo, sem negativismo e sem crítica autocomplacente.
oito/
A arte tem de enfatizar, afirmar e defender a sua própria certeza, desinteressadamente. A arte quer o impossível, a arte recusa o possível e a arte recusa os "factos".
nove/
Tornar uma coisa grande, ampliada, auto-ampliada, não lhe confere importância. Ampliar uma coisa não a torna importante, mas sim comprometida. E simultaneamente [a ampliação] torna-a vazia. O compromisso e o vazio removem o significado. E sugerem outro significado. Um significado diferente. 
dez/
Quis fazer a minha arte sem ilusões. Quero ter esperança. Esperança não enquanto sonho ou escape. Esperança enquanto diálogo e confrontação. Esperança enquanto o princípio por detrás da acção.
onze/
Como artista, por vezes sinto-me ridículo quando olho o meu trabalho. Mas tenho que me confrontar com esse ridículo.
doze/
Quero incluir pessoas e trabalho num público não exclusivo.
treze/
Quero que a minha obra crie condições para o confronto entre ela e o público. Sem neutralizá-lo.
catorze/
Penso realmente que a arte e a filosofia são universais. Na arte e na filosofia não há limites para a compreensão ou a não compreensão. Eu próprio não "compreendo" a arte e a filosofia. Mas é isso que quero abordar, combater, atingir e afectar.
quinze/
Quero resistir à facilidade da mera opinião. Quero resistir à confortável e luxuosa opinião. A opinião do impossível. Tenho que combater a ideologia do que é permitido, a boa consciência, a lógica do cultural e a ideologia da teoria do politicamente correcto.
dezasseis/
Quero trabalhar em excesso, mas também com precisão. Quero trabalhar em sobrecapacidade. 
dezassete/
Fazer arte é um acto de solidão. Esse acto de solidão nada tem a ver com auto-isolamento narcisista ou repressivo. Essa solidão é a minha maneira de resistir. Quero resistir à tendência para tornar as coisas bonitas. Não quero tornar as coisas mais bonitas do que são. Quero através da minha arte ser cruel. Mas quero ser cruel comigo próprio primeiro.
dezoito/
A arte tem que lutar pela sua existência como tudo o resto. A arte tem que dar provas da sua autonomia em todas as ocasiões. A arte não deve ser protegida.
dezanove/
Ser fã significa amar independentemente do conhecimento completo, para lá da perspectiva científica e para lá da verdade histórica. Ser fã de um artista liga-me a todos os outros fãs: ao fã de uma estrela pop ou ao fã de uma equipa de futebol. Ser fã permite-me usar as formas e os meios que pertencem ao fã.



Eu sou fã da obra de Thomas Hirschhorn. Eu sou fã de Thomas Hirschhorn.
Em Serralves até 29 de Janeiro.