NO CAMINHO
A
A "construção narrativa" do espectáculo é feita de antemão pelas escolhas do público, encarregue de definir as condições iniciais do espectáculo: espaço e tempo. O intérprete fica encarregue de articular essas pré-definições com a ideia de percurso inerente à trilogia, como se fosse possível acreditar que no caminho entre os dois pontos, o intérprete é apanhado no meio.
B
A questão da percepção do objecto teatral, longe do seu carácter meramente ilusório, aproxima-se de uma desconstrução que opera ao nível da veracidade, ou da ausência dela. O espaço escolhido não é adaptado a uma estrutura pré-definida pelo intérprete, ou seja, não é um cenário teatral; é um cenário "real". O trabalho de interpretação/improvisação/composição em tempo real deverá condicionar-se àquele momento específico — um espectador que escolheu um sítio e uma hora. A performance demora o tempo que for necessário. E é tanto mais real quanto o espectador acreditar que é real, ou então esquecer-se que está em performance.
C
Transformar um encontro entre duas pessoas num momento “performativo” por excelência. A singularidade do momento em articulação com a singularidade do lugar (e do actor/espectador nele situados) deverão instaurar o aparecimento de um acontecimento vivencial que é, antes de outra coisa qualquer, um privilégio — ser mais importante ter um actor a representar só para mim, que eu ter um espectador a ver o meu espectáculo.