VOU A TUA CASA
Há uns dias, o cozinheiro catalão Ferran Adrià, que foi capa do New York Times, comentava que no Japão existe um restaurante com uma só mesa, e que um dos seus sonhos era isso mesmo: poder ter um restaurante para cozinhar para um grupo reduzido de comensais. Pois bem, o actor português Rogério Nuno Costa ultrapassou o cozinheiro espanhol e propõe-nos ir a nossa casa para fazer uma peça enquanto jantamos ou noutro momento qualquer. Não é bem a mesma coisa, mas a ideia da atenção que um grupo reduzido de pessoas pode dar à tua “arte” é parecida, e muito apetecível do lado de quem faz e também de quem olha. No caso do cozinheiro, embora o facto não fosse acrescentar nada à bondade dos seus pratos, nesta peça sim, e muito. Rogério representa um antigo amante que tivemos e que abandonámos, e fá-lo na nossa casa, com a consequente facilidade de implicação por parte do espectador. Usa o espaço nosso e os nossos objectos, até convertê-los em adereço e cenário. De resto, a peça funciona como um “clássico” romântico, com várias e bem sucedidas cenas, em que o actor estabelece ligações fortes com as artes plásticas ou com a poesia. Se conseguires relaxar e não fazer muito barulho com os talheres, ou és daqueles que escolhe logo os primeiros lugares no teatro para ver de perto os actores, então vais desfrutar imenso de 'Vou A Tua Casa'.