FUI A TUA CASA
A "sessão das 19:00"
Uma casa em Torres Vedras com três rapazes simpáticos e uma senhora, mãe de um deles, atrasada 20 minutos, e com ar triste. Dei-lhe um abraço ao som de “Un Jour On Se Rencontrera”, da Linda de Suza, e senti o coração dela bater junto ao meu, no corredor. Fiquei mais feliz, e daí para a frente deixei radicalmente de seguir o guião “versão torres vedras”. Concentrei-me nas paredes e nos tapetes do corredor e apareceu um gato. Fiz uma cena só para ele. Tenho mais jeito para comunicar com gatos do que com pessoas. O gato ouviu tudo o que eu tinha para lhe dizer. E depois fugiu. Tentei atirar-me da janela da sala, em homenagem ao gato, mas havia varanda por baixo, e então não me atirei, fiz de conta. Tal e qual como os gatos. Manobras de charme... Não cheguei a experimentar o guião “versão torres vedras” em toda a sua plenitude. Não achei adequado. Fiz de conta que me esqueci dele em Lisboa, e colei no ecrã da televisão um pequeno mapa com algumas ideias-base, que julgo terá ajudado as quatro pessoas e o gato a decifrar os códigos. Fechei-lhes a porta com um poema, no fim, e dei o CD com o “Ne Me Quittes Pas” ao Miguel. Se voltar a precisar dele, não o terei. Pouco importa. Cá fora, o André espera-me debaixo de uma chuva miúda. A performance mudou. De facto. Das duas uma, ou deito fora as folhas de papel cor-de-laranja, ou deito fora as folhas de papel cor-de-laranja.