sábado, maio 09, 2009

lado b.

MAIO 2004
[ou: ainda encontro páginas por riscar no caderno de notas, com coisas destas:]



"There is nothing more abstract than reality."


  1. Colocar as pessoas no sítio certo, que é como quem diz, pô-las na "linha". Na de trabalho ou noutra qualquer. Chega de "margens".
  2. Não fazer rigorosamente nada, que é como quem diz, fazer rigorosamente tudo. Chega de tensões.
  3. Não conceder papéis, que é como quem diz, revelar papéis existentes e riscá-los da "lista". Pô-los na "linha", "alinhá-los". Chega de poéticas do espaço.
  4. Fechar todos os campos de possibilidades, que é como quem diz, abrir todos os campos de impossibilidades. É-se feliz nos becos sem saída. São quentinhos, protegidos, e são "lugares onde", não são "não-lugares". Não.
  5. Partilhar um lanche. Porque é bonito. Chega de poéticas do espaço.
  6. Dizer que se faz e que se acontece, assim fazendo e acontecendo. Parar. Queremos performatividades linguísticas, não queremos "linguagens" espectaculares. Quem não sabe é como quem não vê. Mas quem vê, nem sempre sabe.
  7. Escrever num cartaz "PODIAS TER SIDO TU A FAZER". E depois dizer: "ENTÃO FAZ!". E depois ver, sabendo.
  8. Fotografar e revelar, que é como quem diz: ver (sabendo...) o negativo. E depois suspender. Chega de clímaxes. O melhor show off é o tântrico.
  9. Destruir todas as máquinas de cena, que é como quem diz: inventar máquinas para sair de cena, ou então inventar máquinas para lá ficar o maior tempo possível. Pode ser drogas, já estamos por tudo...
  10. Correspondermo-nos por carta, evidentemente. E sempre.
  11. Escrever "sempre" ou "para sempre" no final de todas as cartas que escrevermos.
  12. Escrever cartas a pessoas que estão espetadas à frente do nosso nariz, à mão de semear e à mão de escrever, dizendo-lhes constantemente que é mentira. Porque "é mentira".
  13. Não fazer de conta que se sabe, mas também não fazer de conta que não se sabe. Queremos mesmo saber. Por exemplo: "Como te chamas?".
  14. Escrever no caderno de notas: "Isto não é sobre eu ir ter contigo e conhecer-te, isto sou eu a ir ter contigo e a conhecer-te". Mesmo. Ou em inglês: "For real!". Ou seja, "para o Real". 'Bora pró Real? Chega de poéticas. Do espaço ou doutros sítios platónicos quaisquer.

©Luísa Casella [2004]