quinta-feira, dezembro 11, 2008

lado a.

não esperei | vim | nunca me tinha apercebido | apercebi-me entretanto | foi urgente | sozinho | vim sozinho | trouxe na mala apenas a vontade preguiçosa de ter voltado | foi tudo muito literal | muito literal | foi tudo | foi muito | uma questão de realidade | não achas | não achaste | tu deixaste | eu pintei-te a parede, a seguir fugi | deste por isso | deste conta | já não estou | doeu | tossiu | mugiu | pronto | foi tudo mentira | mentira | mentira, mentira, mentira, mentira | parece-me que já encontrei | a mentira perdida | a principal | a primordial | a mais mentirosa de todas | eras tu que a tinhas | não te preocupes porque foi mentira | foi a brincar | já não me lembro do que é ir a tua casa | lá fora continua tudo em desordem | cá dentro continua a haver mais ar | respira-se mais | por isso é que é mentira | é tudo mentira | tem que ser mentira | aliás, tem que ser mentira | se não for não é | não é nada | mentira | deixaste-me entrar | eu fui boa pessoa | deixei-te coisas como que perdidas, debaixo dos tapetes | para quando as encontrares | é delicioso saber que vou ficar aqui para sempre | implacavelmente para sempre | é delicioso saber que me vais encontrar debaixo dos tapetes | nos parapeitos das janelas | no pó dos móveis | nas manchas de humidade do tecto | nas ranhuras do soalho | e dentro dos vasos | nas escadas | na fachada do prédio | nos buracos das fechaduras | e nas campainhas que oiço quando alucino | e me lembro | de ter mexido nas tuas coisas | de ter respirado o cheiro do teu quarto | de te ter visitado...