quarta-feira, janeiro 23, 2008

o espectáculo continua.

Envie-se por escrito: são horas! Há correio. Mãos pela cara. Não quero não quero acordar. Não quero encarar, não querer acordar como um qualquer derrotismo de 'ter que' e outras obrigatoriedades: flash; ontem; flash; contra-luz; flash, a projecção dos pontinhos de sol filtrados pelos estores ainda a meia-parede. É certamente manhã, nem considero a alternativa. Sonhei outra vez no século XVII. O anti-barroco à socapa escapa-me pelo sonho que digo recorrente. Vergonha. Não divulgo isto, não divulgo o que quereria dizer, não divulgo a resistência em ouvir isto. Uns-e-outros. Esferas que não espero que se intersectem além da cordialidade. Ilustro: dá-me gozo vê-la a dialogar como grande sofrida pela vida. Claro claro claro. Eu quando concordo, abstenho. Digo-que-sim (código universal que me poupa), claro claro claro claro, sim sim pac pac pac woof peef paf; assim foi ontem. O Rogério... O tempo. Imaginas-te? (eu à bom psicopatológico desdobro-me noutro para que possa concordar comigo próprio ou outras repulsões, a coerência é abundante.) Imaginas-te? O tempo… Que passou nisto… E é tão bonito. É que é mesmo isto do eixo norte-sul, do ser transportado interveniente que se diz observador. Dizemo-nos observadores na comunhão com um Próximo que exala emotividade e lhes guardamos um registo. Não os quero totalmente extremados, confesso. Era-me fácil ir à porta das urgências vê-los de goela pela dignidade humana. Um piano lhes caia em cima. Há uma unha de voyeurismo que na documentação asséptica e pouco adjectivada se torna num qualquer registo do momento. Mas não quero mesmo divagar. Volto ao dia do correio matinal, do teu caderno pela manhã e a… consequente gaguez de expressar gratidão. A coreografia do ensaio da resposta, vês? Era escrever-te ponto por ponto. Era tornar um discurso fluido por tabela. Decido em substituição desse pressuposto narrar este preciso momento. Recolhi memórias desde que te recebi por escrito. De uma das gavetas de generalizações onde enfio invariavelmente as pessoas; lembro-me que nem pelo meu esforço consigo que, quer num meio laboral ou académico, se deixem dos universos imediatos e tangíveis. Ele é a frequência que 'bué grande e não dava para nada', o gerente que 'ele está como quer, vem às horas que quer e sai quando lhe apetece'. Dizer-te enfim, como isto me angustia. 'Seeing inside the box'. E eu, claro, ter que cair no queixume. Foi aqui que caíste na quinta-feira. Tanto obrigado pela ruptura. Tanto tanto quis dizer-to até

agora.

[ex-espectador, 2006]