terça-feira, novembro 13, 2007

press.

THE VERY BEST OF GERMANY
Ou deveria dizer Europa?

(conversa entre Armgard Seegers e Klaus Witzeling)


A tradução, nada livre, é minha:


Vou A Tua Casa, diz o actor e performer Rogério Nuno Costa. A convite e por 100 euros, o convidado constrói uma performance na sua sala de estar. Tudo por causa do Dancekiosk. Após uma marcação prévia, a jornalista Elisabeth Burchardt convidou o Português de 29 anos para o seu apartamento, não sem antes se ter preparado e pensado: O que oferecer? O que vestir? Klaus Witzeling esteve lá e debate agora o acontecimento artístico com a editora Armgard Seegers.

©Rogério Nuno Costa [Hamburgo, 2007]


ARMGARD SEEGERS — Klaus, tu estiveste com o performer, e porque qualquer pessoa pode convidá-lo, diz-me: o que é que ele faz?

KLAUS WITZELING — Ele tocou à porta, ficou no hall por uns tempos e depois começou a falar connosco.

SEEGERS — Portanto, trata-se de um daqueles espectáculos em que não se dança, fala-se?

WITZELING — Exacto. Mas ele propõe-nos outra coisa. Tanto quanto percebi, ele prefere chamar "conferências" às suas performances.

SEEGERS — Isso parece-me estranho. Porque razão há-de alguém, em sua casa, convidar um performer para um conferência?

WITZELING — É mais ao contrário. Ele apresenta-se como mediador entre o espectador e um outro conceito de arte, recolocando toda a atenção em ti como espectadora. Tu decides se queres ou não experienciar um momento artístico.

SEEGERS — Para isso prefiro convidar os meus amigos. 

WITZELING — Mas há uma diferença: quando convidas alguém que não conheces e que te propõe uma experiência teatral, artística, crias expectativas e preparas-te para o encontro de uma maneira completamente diferente. São situações muito distintas.

SEEGERS — OK, OK. Então alguém aparece, diz-se artista, senta-se e começa a falar comigo. Isso parece um daqueles programas de televisão com confissões de teor psicológico…

WITZELING — Ele faz mais do que isso. Tem um laptop com o qual te apresenta um curso de línguas, despoletando discussões à volta da ideia de comunicação, depois mostra-te imagens de Lisboa…

SEEGERS — De Lisboa?? Um slide-show turístico?

WITZELING — Ele segue o conceito de arte avançado por Beuys, que diz que todos somos artistas. Toda e qualquer ideia de arte existe já na realidade, em jeito de readymade. Ele quer que seja o espectador, com as suas expectativas, a construir essa ideia, e não ele.

SEEGERS — Isso desagrada-me à partida. Ter que contribuir? Eu quero é receber qualquer coisa!

WITZELING — É essa a questão! Ele dá-te um "nada", mas que ainda assim é "qualquer coisa".

SEEGERS — E o que é que isso tem a ver com arte? Isso é a minha vida!

WITZELING — Exacto. Ele não quer separar a arte e a vida. Tudo o que acontece acaba por ter um valor.

SEEGERS — De acordo com a minha ideia de arte, vejo esse tipo de jogo amador como uma traição à própria arte. Se eu convido um artista a vir a minha casa por 100 euros, espero ver algo especial. E para além dos postais ilustrados de Lisboa, quero poder dizer no fim: aconteceu algo artístico em minha casa.

WITZELING — E é esse o objectivo. A questão é ele estar perfeitamente treinado para algo, mas recusar-se a fazê-lo. Prefere usar a sua condição de estrangeiro e brincar com as tuas expectativas.

SEEGERS — Desculpa, mas isso não é arte, é charlatanismo: alguém que se diz artista recusar a própria arte. Eu não vi, mas julgo que ter-me-ia sentido defraudada.

WITZELING — Eu vi e não me senti defraudado. Achei muito interessante.

SEEGERS — Mas tu disseste-me que dormiste mal nessa noite. 

WITZELING — Acordei por volta das 6 da manhã. O que aconteceu intrigou-me. Seja como for, ele até concordaria contigo: se dizes "isto não é arte", então se calhar estás com ele.

SEEGERS — O não-evento intrigou-te? Parece que contigo a arte funciona em pequenas doses homeopáticas. Quanto a mim, preciso de algo mais. Temos definitivamente opiniões diferentes.

in Hamburger Abendblatt, 10.08.2007