FORAM A MINHA CASA
Abrir a porta. | Constrangimento por não saber o que dizer. | Sento-me. Silêncio. Risos nervosos. Esperava tudo. | Início. | Pensamento 1: A minha casa é tua! | Resposta ao pensamento 1: Não! Continua a ser minha! | Pensamento 2: Tem graça, não me sinto nada invadida! | Resposta ao pensamento 2: É essa a ideia! | Levantamo-nos. Percorremos divisões. | Pensamento 3: As minhas coisas estão todas aqui, vai tocar-lhes? | Resposta ao pensamento 3: Sim! É bom! | Tudo o que é meu é cenário, adereço. | Não sou público, sou parte do cenário. | Tantas sensações inéditas. Tantas emoções inexperimentadas. | Pensamento 4: Se calhar deveria intervir! | Reposta ao pensamento 4: Só se me apetecer. Sou livre e esta é a minha casa. | Observo. Movimento-me na minha casa de uma maneira diferente do habitual. | Sou conduzida dentro do meu espaço. | Pensamento 5: Se me deixar conduzir sinto-me numa posição inferior? | Resposta ao pensamento 5: Não!!!!!!! Gosto disto assim!!!!! | Fim. | Abrir a porta. Terminou????? | Assentar pensamentos e emoções. | Pensamento 6: Gostei? | Resposta ao pensamento 6: MUITOOOOOOO. | O tempo passou demasiado rápido. | Queria mais e mais e mais e mais. Agora olho para os meus objectos e para o meu espaço. Continuam a ser meus. Tudo inalterado. Foram outra coisa e agora repousam no que eram antes. Tiveram outra utilidade uma única vez. Eu tive outra utilidade uma única vez. Irrepetível!
Marisa Salvador, 30 anos, produtora de cinema