domingo, novembro 19, 2006

diário-residente.

5.ª, 6.ª e 7.ª semanas,
assim de enfiada

e telegraficamente,


porque estou muito cansado e tenho que preparar o workshop que começa amanhã e já me resta pouco tempo para escritos adjacentes, lembro-me de no último diário ter ficado no regresso de Évora, espantoso, tenho feito tanta coisa diferente, em tantos sítios diferentes, para/com tantas pessoas diferentes, que um mês parece que tem um ano, Évora já me parece longínquo, uma distância de três semanas durante as quais troco materiais de diversa índole com os espectadores que provaram da minha comida, há sempre dois ou três que esticam o tempo no tempo e se assumem de armas e bagagens dentro do clube dos amigos da "life-specificity", marcam-se encontros, jantares e outros roteiros gastronómicos por terras de além e aquém-Alentejo, mas o trabalho continua, para mal dos meus pecados, e aperta de uma maneira tal que me vejo forçado a cortar com algumas coisas, embora não me coibindo de bulir por terras de além e aquém-Bairro Alto, em número de três vezes numa semana só, já não abraçava semelhantes quermesses desde os tempos em que fazia peças de teatro universitário e me embebedava depois, com cervejas compradas a escudos, no Adamastor, corria ainda o século passado, tenho saudades do século passado, mas isso agora não interessa nada, interessa que decidi assumir o formato in progress para a minha instalação, e assumir-me a mim dentro dela, na verdade sempre a quis como working place, e que tivesse esse tempo altamente pessoal (personalizado) dentro dela, como por exemplo: eu aborrecido de morte a vegetar em frente ao meu Macintosh. Tirando isto, a única coisa digna de nota terá sido a conversa muito interessante em que participei, subordinada ao tema Representações, no âmbito do projecto do Luís Filipe Cristóvão, e que seria perfeita não fosse um membro da audiência, um velho do Restelo de coloração política "exageradamente" vincada e bafienta, ter decidido minar meia hora do tempo de antena a dizer barbaridades temporal e espacialmente deslocadas, mas, para mal dos seus pecados, imediatamente aniquiladas, moral da história: aquilo que eu faço, afinal, é arquitectura (Cristina Castelo Branco, arquitecta, dixit).

Segunda semana, três dias intensivos de aulas nas Caldas da Rainha para compensar a semana em que faltei por estar em Évora, muitas ideias concretizadas em vídeo, muitos mosquitos assassinos em voos picados em direcção aos braços e às pernas dos meus alunos e muitos actos terroristas escola fora, apresentação final do curso no final do mês e já estou cheio de saudades deles, no sábado 11 chegou a Teresa Prima, no dia seguinte, a Maria Lemos, juntos, experimentámos durante 5 dias uma coisa ainda muito verde (mas com muito bom ar) à qual chamámos de Life Zone, e que nos levou a celebrar dias de não-aniversário, a aprender a andar de patins em linha nos corredores alcatifados do Hotel Império, a dormir sestas quando nos apeteceu, a meter conversa com o rapaz do bar que é fotógrafo, barman, DJ, e pratica técnicas de verticalização e de resgate in the meantime, a visitar todas as lojas chinesas das redondezas e a sair de lá com sacos cheios de inutilidades, a escrever e a desenhar em quilómetros de papel de cenário com canetas de feltro mixurucas compradas nas ditas lojas (prazer...), a comer que nem uns cavalos nos restaurantes do Império (tudo a que a senha dá direito e mais a sopa), a inventar projectos big brotherianos só com/para artistas conceptuais (velhas e novas guardas) com a direcção do Teatro Nacional por um mandato como prémio final, a fazer ioga, a dançar o "It", do Stockhausen e a praticar o dolce far niente performativo (prazer II...), meia hora de bicicleta imediatamente antes da performance e um cabaz de natal conceptual como prenda final, e temos 5 dias inesquecíveis que queremos repetir, não porque queiramos melhorar, avançar ou evoluir, mas simplesmente porque queremos viver, mais..., e é isto, possivelmente, o futuro do meu trabalho, pelo meio, as aulas "Eurovision" powered by Teatro Praga, as reuniões de negócios, as novas estratégias para o Projecto de Documentação e muitas, muitas, muitas boas notícias, estou feliz, porque estou vivo.