VOU A TUA CASA, de Rogério Nuno Costa, casa do Tiago, Lisboa, 17 de Março de 2004, sala cheia, por Tiago Neves
Quando o Rogério veio a minha casa (Lado A) eu já esperava algo da vida dele misturada com as ideias e identidade artística, no sentido de não haver fronteiras nítidas entre uma e outras. Em minha casa, como espectador e “alvo” da actuação do Roger, que também as fronteiras eram presentes no que ele falava. Desta vez as fronteiras entre a “verdade” pessoal e a “verdade” do actor. E ele jogava com isso, com a minha reacção, com a minha casa, as minhas coisas, mas também com as coisas dele. Um jogo com algumas regras, as dele e as estabelecidas socialmente, que iam sendo usadas de acordo com um guião que também mudava com as situações. Gostei das sensações e ideias provocadas, em particular da sensação de eu fazer parte da performance, guiado pelo Rogério/actor, como se eu desse os meios e ele dispusesse para montar a cena. O melhor foi mesmo ver que ele dava algo de pessoal e eu também, como fazem os amigos. Quando fui a casa do Rogério (Lado C) tive uma refeição de luxo em óptima companhia, as preocupações na casa dele já eram mais formais e de cariz estético e artístico. Já não tive as sensações que tive no Lado A, mas também percebi que da mesma maneira as fronteiras não existiam, o artista Rogério é Rogério e artista sempre e ao mesmo tempo. Senti-me mais espectador, porque na verdade é em tudo mais como um "espectáculo": eu desloco-me à "casa" do artista para o ver "actuar", apesar de estar sentado à mesa com ele e na casa (mesmo) dele. Passou tudo a ser mais formal para mim, até porque o discurso era mais complexo e “fechado” nas questões teórico-artísticas. Na mesma fiquei com vontade de jantar mais vezes com o Rogério-amigo-que-é-artista e de ver mais trabalhos do Rogério-artista-que-é-meu-amigo.
Tiago Neves tem 32 anos, é groupie.