Lado A
O título é literal. Gosto de títulos literais. Não acredito nos poético-simbólicos, filosófico-enigmáticos, sofisticados, ocultos ou encriptados. "Vou A Tua Casa" não engana ninguém; potencialmente terá o condão de assustar uns quantos, mas não é mais do que isto: um actor (urgente) a ir a casa de alguém. Nada mais para além da simples aventura artística (teatral), em constante fuga do espaço e do tempo. A óbvia questão dos ‘limites do teatro’ vem por arrasto, mas não me interessa propriamente. Interessam-me as pessoas, as casas, e o facto de ir ter com elas; se isso é mais ou menos teatro, mais ou menos espectáculo, mais ou menos espectacular, pouco me importa. Aquilo que faço tem que ter sempre essa carga de 'realidade' forçada, arrancada aos ferros do meu estômago, e cheia de truques maldosos e mentiras encapuçadas; gosto de fingir, fazer de conta que estou muito emocionado. Não acredito na verdade. Para mim é tudo mentira. É mentira que existem pessoas, casas, e eu a ir ter com elas. As cidades são mentirosas. Eu minto com elas, e somos todos muito felizes.
A performance/intervenção urbana "Vou A Tua Casa — Lado A" esteve em cena de 15 de Agosto de 2003 a 12 de Março de 2004, em Lisboa, nas casas dos espectadores. Foi reposta nos dias 8 e 9 de Outubro de 2004, em Torres Vedras, no Festival A8, e de 2 a 7 de Novembro de 2004, em Londres, no Postscript.