sábado, abril 25, 2009

o espectáculo continua.

MISTICISMOS
a oportunidade de um espectador


EU — Tu és assim o exemplo típico do "amigo Vou A Tua Casa". Pertences ao clube. Eu queria fazer qualquer coisa com isto, mas não sei bem o quê. Só me ocorrem coisas visuais e totós da art contemporaine...
ELE — Hehehehe! Fui à tua casa, convidei-te para a minha... Isso é interessante. Vou desatar a despejar mochilas em cima das mesas das pessoas para fazer amigos como tu! Por acaso senti uma coisa estranhíssima quando os teus alunos do workshop comentaram o meu trabalho...
EU — Nem tudo são rosas, meu caro... Também fazes muitos inimigos. Na verdade, fazes mais inimigos que amigos...
ELE — Parece que por segundos estavam todos apaixonados por mim...
EU — Bem-vindo ao universo Vou A Tua Casa, no que ele tem de bom e de mau. O que fizeste potenciou isso.
ELE — Que estranho poder!... Por momentos pensei: "Podia fazer isto a vida toda"...
EU — Dizia isso a mim próprio de cada vez que terminava um espectáculo, mas acho que estava enganado... Não quero fazer isto a vida toda, porque isso implicaria que houvesse muitas pessoas disponíveis para isto, e não há. Ser-se "generoso" não é da moda.
ELE — Bem sei...
EU — Eu "apaixono-me" sempre. A sério ou a brincar. Não tenho outra hipótese. Se houver algum entendimento "técnico" em relação a este projecto, é esse. Faço os possíveis para me apaixonar. mesmo. A sério ou a brincar. Mas mesmo. Uma das relações "a sério" mais bonitas que tive foi com um espectador; apaixonamo-nos durante o No Caminho.
ELE — Ai sim!?
EU — Sim. Tenho a sensação (acho que ambos temos) que a "performance" só acabou no dia em que terminámos a relação, um ano e meio depois.
ELE — Que lindo!!!!

[...]

ELE — É... Às vezes baixam-me capacidades mediúnicas... Já jantei à borla muitas vezes por causa disso!
EU — Estás a falar a sério?
ELE — Bom... Não foram assim tantas vezes... Embora uma amiga me queira pôr a render no Chiado.
EU — Hahaha! Temos que falar melhor disso, do mediúnico... Lembras-te daquela conversa de abrir um livro ao calhas num espectáculo e o que leio bater certo em relação à situação em que estou ou em relação ao que acabei de dizer no instante imediatamente anterior?
ELE — Muito bem, sim.
EU — Bom, há pessoas que vêem naquilo algo mais que uma coincidência "performativa", ou então um trabalho de observação artística que por ser muito sensível (para ambas as partes: actor e espectador) faz provocar situações e associações entre situações que são de uma coincidência quase-mística... Seja como for, eu tenho uma grande dificuldade em assumir que possa ser possuidor de super-poderes, que não sou. LOL
ELE — Haahah! Eu com o que já vi, abstenho-me de comentar... LOL. Mas para mim, um pensar e o outro dizer não encerra qualquer tipo de mistério. Parece-me naturalíssimo 'adivinhar' pensamentos.
EU — A mim também me parece naturalíssimo. Por isso não sei falar destas coisas. Elas acontecem. Ponto final. Sabes, eu não te conheço bem, mas tenho a sensação que tu tens uma sensibilidade muito vou a tua cas'iana. E com esta me retiro.
ELE — Faz boa viagem e que tudo corra bem!



Lisboa
Agosto 2007