segunda-feira, julho 28, 2008

o espectáculo continua.

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ELE— ...não me venham dizer que a alienação não existe. EU— A alienação não existe! Simplesmente porque o seu contrário também não. Só existe alienação. Por isso, mais vale nem falarmos dela... ELE— Acho que se percebêssemos realmente de música, acabava-se a pop. EU— A pop não pode acabar. É o melhor Xanax. E é como a alienação. Só existe pop. O resto não existe. ELE— Eu, como sou do cinema, tenho uma distância muito crítica em relação a isso tudo. Porque sou meio arte, meio indústria. Porque não sou nem uma coisa nem outra. E sofro porque nem sou artista nem sou funcionário. EU— És tu e os designers. Se bem que os designers são pessoas muito felizes. Não sofrem. ELE— O design é o fim da arte... EU— Isso excita-me. ELE— É um bocado como o Fausto a tentar comprar a alma de volta. Com o dinheiro da venda da mesma, claro... O que eu sei é que o branding come tudo. Aliás, o Régis Debray explica isso bem, ou não? EU— Estou a ler... ELE— Eu esqueço-me de 98% das coisas que leio. EU— ...e estou a gostar muito. O homem começa a contar a história da imagem pela sua morte. É como se a arte, ao nascer, já tivesse assinada a sua certidão de óbito. Mais uma coisa que me excita sobremaneira... ELE— Mas ele associa isso ao sistema social/político/económico, não? Ou seja, quem é que precisa da arte? EU— Ainda estou na parte dos sarcófagos... ELE— Fiquei espantado com o Debray. Da guerrilha para a academia... EU— Acontece aos melhores. ELE— Já que aos piores não acontece nada... EU— "Be open to whatever comes next", John Cage. ELE— Não podemos ser tão sérios. E não nos podemos levar a sério. EU— O sério tira-me do sério. ELE— Também a mim! Apesar dos meus humores fúnebres. Mas isso é pessoal, não é público. Em público, é sempre a partir pedra... EU— Seja. Agora vou sair; já partimos mais...

[Julho 2007]