sábado, maio 02, 2009

press.

PONTO DE FUGA
o texto integral



1. Que projectos para breve?
Depois de um 2008 ocupado essencialmente com o projecto curatorial A Oportunidade do Espectador e a peça Espectáculo de Teatro, estou neste momento em fase de pesquisa e investigação para o projecto que se segue, a criação de um dispositivo virtual e interrelacional de educação trans-artística ao qual chamarei Universidade. Conto que o ano zero arranque lá para o fim de 2010. Até lá, tenho dois catálogos de projectos anteriores para editar, algumas reposições do Vou A Tua Casa (dentro e fora de portas) e ainda um filme sobre Amares, a minha terra natal.

2. O que interessa divulgar neste momento do seu trabalho?
A peça infantil que vou co-criar e interpretar a meias com a Sónia Baptista e o Miguel Bonneville, com base nas "Histórias em verso para meninos perversos", de Roald Dahl. Estreia no Teatro do Campo Alegre, no Porto, em Outubro.

3. Qual a banda sonora dos seus dias? Ou seja, que discos e temas anda a ouvir em casa, no carro, na rádio, no leitor mp3? E para que momentos?
Em loops infinitos, o novo dos Pet Shop Boys ("Yes"), que oiço em todo o lado enquanto sonho com férias de verão na Riviera Francesa. Em loops mais contidos, os novos da Peaches (na rua) e dos Grizzly Bear (na cama). Em loops normais, as 42 músicas do Festival Eurovisão da Canção 2009. E depois oiço sempre, e em todo o lado, dois dos meus mais insistentes guilty pleasures: Scooter e Jean-Michel Jarre (discografias completas, remisturas, b-sides, colaborações e raridades); uma aliança franco-germânica que é não só a banda sonora dos meus dias, mas também a cara chapada da minha persona criativa.

4. Qual o último filme a arrebatar-lhe os sentidos e porquê?
Não vou muito ao cinema. O último filme que me arrebatou os sentidos (entre outras coisas arrebatáveis) vi-o em casa e foi o "The 5 Obstructions", do Lars von Trier vs. Jørgen Leth. É de 2003, mas só o vi em 2007; desde então, a obsessão já me fez revê-lo umas boas 20 vezes.

5. A que político aconselharia? E porquê?
Honestamente, a nenhum. Os políticos (portugueses) já são exímios em desenvencilhar-se criativamente de obstáculos duros de roer. Mas aconselharia vivamente o filme a todos os soit disant "programadores culturais" (portugueses), que são mais "políticos" que os políticos todos juntos.

6. Que espectáculos de palco pensa ver? Porquê?
Sou daquelas pessoas velhas e execráveis que praticamente já só vê os espectáculos dos amigos e não tem paciência para os restantes. Estou em pulgas para me sentar na primeira fila do renovado S. Luiz para ver "Demo", o musical do Teatro Praga. Acho que é em Julho.

7. E quanto a literatura? Está a ler algum livro de momento? Se sim, qual e porquê? O que está a achar?
Deixei de ler poesia em 2002. Deixei de ler romances em 2005. E deixei de ler ensaios (sobretudo filosóficos) em 2008. Já só leio livros de cozinha, e leio-os como quem lê poesia, romance e ensaio. Basta-me. Recomendo o magnânime "A Day at elBulli", sobre e à volta do chef catalão Ferran Adrià, uma edição de luxo da Phaidon.

8. Qual o último livro que abandonou a meio? Porquê?
Que me lembre, nenhum. Sou um emo-conceptual insistente e de pendor assumidamente masoquista: vou até ao fim, mesmo quando não estou a gostar. Gostaria de ter a coragem de um dia poder abandonar a meio qualquer coisa que me estivesse a agradar imenso.

9. Qual a sua arte da fuga predilecta? (ou seja, quanto está de folga ou férias, disponível para ócio, o que prefere fazer na cidade?)
Prefiro a casa à cidade. Nesse sentido, a minha arte e a minha fuga encontram-se plasmadas aqui: www.vouatuamesa.blogspot.com. Sonho com o dia em que a cozinha será o meu ponto de fuga estruturante, e já não um mero amor das horas vagas.


[in "Actual", jornal EXPRESSO, por Bernardo Mendonça]


©Espectáculo do Teatro, 2008